Ex-Comandante-Geral da PRM, Bernardino Rafael, pede perdão ao povo e admite peso na consciência após mortes provocadas por forças policiais
Em um momento raro de mea-culpa por parte de uma alta figura das forças de segurança moçambicanas, o Comandante-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, dirigiu-se recentemente à nação com um pedido público de perdão.
Em suas palavras, ele afirmou carregar um "peso na consciência" devido às inúmeras mortes ocorridas durante operações realizadas por agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e da própria PRM.
Durante uma cerimônia oficial, que contou com a presença de autoridades civis e militares, Rafael expressou arrependimento pelas ações letais de alguns membros das forças de segurança.
Ele reconheceu que, apesar da missão de proteger e servir o povo, muitos agentes agiram de forma contrária a esses princípios, resultando em tragédias que marcaram profundamente várias famílias moçambicanas.
“Peço perdão ao povo moçambicano. Estas mortes pesam na minha consciência. O que aconteceu em diversas operações não reflete os valores que defendemos. Devemos estar ao serviço da paz, da ordem e da proteção dos nossos cidadãos, não do contrário”, declarou o comandante, visivelmente emocionado.
Nos últimos anos, organizações da sociedade civil e grupos de defesa dos direitos humanos vêm denunciando casos de uso excessivo da força, desaparecimentos forçados e execuções sumárias atribuídas a agentes da UIR e da PRM.
As denúncias ganharam força sobretudo em regiões afetadas por instabilidade, como Cabo Delgado e zonas periféricas de Maputo, onde operações policiais resultaram em confrontos fatais com civis.
Rafael reconheceu a gravidade dessas situações e garantiu que medidas estão sendo tomadas para responsabilizar os envolvidos. “Não podemos tolerar abusos. Estamos a reforçar os mecanismos internos de fiscalização e a garantir que os autores de atos fora da lei respondam pelos seus crimes”, afirmou.
O pedido de perdão de Bernardino Rafael foi interpretado por muitos analistas como uma tentativa de restaurar a confiança entre a população e a polícia, num momento em que a imagem da corporação enfrenta sérias críticas. Para familiares das vítimas, no entanto, o gesto precisa ser acompanhado de ações concretas, como justiça, reparações e reformas estruturais nas forças policiais.
Grupos da sociedade civil apelaram para que esse reconhecimento público se traduza em mudanças reais nas práticas policiais e no combate à impunidade. “É um primeiro passo importante, mas não suficiente. O povo precisa de justiça, não apenas de palavras”, afirmou um ativista de direitos humanos que preferiu não se identificar.
O discurso de Rafael abre um novo capítulo na relação entre as forças de segurança e os cidadãos, mas o caminho para a reconciliação e para o resgate da confiança pública ainda parece longo e desafiador. Leia mais...